sábado, 31 de maio de 2008

Mensagem de Libertação.




I know you're out there. I can feel you now. I know that you're afraid... you're afraid of us. You're afraid of change. I don't know the future. I didn't come here to tell you how this is going to end. I came here to tell you how it's going to begin. I'm going to hang up this phone, and then I'm going to show these people what you don't want them to see. I'm going to show them a world without you. A world without rules and controls, without borders or boundaries. A world where anything is possible. Where we go from there is a choice I leave to you.


Tradução:


Neo:


Eu sei que estão ai. Consigo sentir a vossa presença. Sei que estão com medo. Estão com medo de nós. Estão com medo da mudança. Não conheço o futuro. Não vim aqui para lhes dizer como isto acaba. Vim aqui para lhes dizer como vai começar. Vou desligar este telefone, e mostrar a estas pessoas o que não querem que elas vejam. Vou mostrar-lhes um mundo sem vocês. Um mundo sem regras nem controlos, sem fronteiras ou limites. Um mundo onde qualquer coisa é possível. O nosso caminho depois é uma opção que fica para vocês.

Para Pensar (3).

«Be Youself, No Matter What They Say!» (Sting)

Para Pensar (2).

«Acreditar em algo e não o viver é desonesto.» (Gandhi)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Portugal e a Selecção Nacional.


É certo e sabido que nós, portugueses adoramos futebol. Adoramos ver futebol e falar sobre futebol. E quando se trata da selecção nacional, ui, é a euforia. Uma euforia que começou em 2004, aquando do Europeu de Futebol, organizado pelo nosso país, impulsionada também pelo nosso seleccionador nacional, Luiz Filipe Scolari, aquando do seu pedido aos portugueses de erguerem a sua bandeira nas janelas. Eu também entrei nessa euforia em 2004, mas hoje, passados 4 anos, confesso que já não me sinto assim. Não tem nada a ver com a selecção nem com o futebol, tem a ver com o excessivo (sim, na minha opinião, é excessivo) destaque dado à selecção nacional de futebol por parte dos media. Diria até que a euforia de 2004 voltou. Estamos na véspera de um novo Europeu, é normal ouvir falar mais da selecção na comunicação social. Mas ao ponto do exagero de como a TVI o faz, que chega a ser impressionante e até deprimente. Ainda por cima é a televisão que irá transmitir os jogos do Europeu. Emissões especiais o dia todo, ao ponto de interromperem os programas que estão a emitir. Coisas do tipo: "Em directo de Viseu, Cristiano Ronaldo acaba de sair do autocarro..." ou mais do género: "Emissão especial: Nuno Gomes acaba de sair da casa de banho do hotel, vamos tentar obter uma reacção..." Meus Senhores, qual reacção? Que o Nuno Gomes se sente mais leve depois de sair da casa de banho? Deixem o rapaz em paz. Não precisamos de saber o óbvio. Já agora deixem-os treinar à vontade, para que possam realizar o melhor europeu possível. Depois há outra coisa que não percebo. Ele é dvds da selecção, ele é bandeiras nas janelas (outra vez), ele é sócios da selecção e mais não sei o quê. Sócio da selecção? Para quê? Para ir à bola mais barato e apoiar a selecção? Eu apoio a selecção e não preciso de me fazer sócio. Não me interpretem mal. Eu gosto da selecção e gosto de futebol, mas só vejo esta euforia de patriotismo com a selecção de futebol e não o vejo com outras coisas. Não vejo bandeiras nas janelas quando os portugueses participam nos Jogos Olímpicos ou nos Paraolímpicos; não vejo euforia quando alguém duma área qualquer ganha um qualquer prémio de prestígio, que muito dignifica a própria pessoa e o país. Quando o Saramago venceu o Prémio Nobel da Literatura, não vi bandeiras na rua. Eu nem sou fã do senhor nem da sua escrita, mas é português e tem de ser apoiado e acarinhado, como os jogadores da selecção. Com isto, apenas quero dizer que me irrita estas diferenças hipócritas. Tudo porque o futebol tem a dimensão que tem no nosso país. Assim sendo, faço o seguinte apelo: apoiem todos os portugueses em todas as áreas como apoiam a Selecção Portuguesa de Futebol. Viva Portugal!

Um Dia Especial (1).

15-01-2008 - Dia Especial. Honoris Causa a Manoel de Oliveira pela UALG. Eu estive lá. Para mais tarde recordar.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Fight Club.



Um dos momentos mais altos da personagem de Brad Pitt no filme Clube de Combate (1999), de David Fincher:


Tyler Durden: Man, I see in fight club the strongest and smartest men who've ever lived. I see all this potential, and I see squandering. God damn it, an entire generation pumping gas, waiting tables; slaves with white collars. Advertising has us chasing cars and clothes, working jobs we hate so we can buy shit we don't need. We're the middle children of history, man. No purpose or place. We have no Great War. No Great Depression. Our Great War's a spiritual war... our Great Depression is our lives. We've all been raised on television to believe that one day we'd all be millionaires, and movie gods, and rock stars. But we won't. And we're slowly learning that fact. And we're very, very pissed off.

Ezekiel 25:17 (1).

Todos nós sabemos que esta é uma das passagens da Bíblia mais conhecidas na história do cinema. A minha homenagem a ela:


Ezekiel 25:17

The path of the righteous man is beset on all sides by the iniquities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he, who in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who would attempt to poison and destroy my brothers. And you will know my name is the Lord when I lay my vengeance upon thee.

Johnny Guitar.


Este foi um dos primeiros textos que aprendi a dizer nas aulas de Introdução à Estética e Práticas Teatrais, com o Prof. Rui Mimoso. O texto era uma tradução de um diálogo tirado do filme Johnny Guitar (1953), de Nicholas Ray. Nós chamavamos-lhe o texto do Johnny & Vienna. Que saudades...Um beijo à Joana Visitação que me ajudou a trabalhar nele e contracenou comigo no exercício final da disciplina. Aqui fica a recordação, na língua original:



Johnny: How many men have you forgotten?

Vienna: As many women as you've remembered.

Johnny: Don't go away.

Vienna: I haven't moved.

Johnny: Tell me something nice.

Vienna: Sure, what do you want to hear?

Johnny: Lie to me. Tell me all these years you've waited. Tell me.

Vienna: [without feeling] All those years I've waited.

Johnny: Tell me you'd a-died if I hadn't come back.

Vienna: [without feeling] I woulda died if you hadn't come back.

Johnny: Tell me you still love me like I love you.

Vienna: [without feeling] I still love you like you love me.

Johnny: [bitterly] Thanks. Thanks a lot.

Alegoria ao Mundo do Cinema.


You never understood, why we did this. The audience knows the truth: the world is simple. It's miserable, solid all the way through. But if you could fool them, even for a second, then you can make them wonder, and then you... then you got to see something really special... you really don't know?... it was... it was the look on their faces...

Tradução:

Nunca percebeste porque fizemos tudo isto. O público sabe a verdade. O mundo é simples. Infeliz, desprovido de magia. Mas se fosse possível iludi-los nem que fosse por um segundo, ficariam maravilhados e nesse momento, conseguíamos ver algo muito especial...não sabes o que era?... era a expressão dos seus rostos...

Robert Angier (Hugh Jackman) to Alfred Borden (Christian Bale), in The Prestige (2006), by Christopher Nolan.

Menu do Dia (1).

Hoje há teste de Literatura Inglesa II às 15 horas e entrega de trabalhos de Cinema e Estudos Culturais, as 16h30m. No meu caso vou só entregá-lo na 5ª feira e pedir desculpas ao prof. pelo sucedido. Aquele trabalho sobre o filme The Matrix anda a deixar a minha cabeça num oito. Enjoy the menu.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O Mês Mais Longo.

Hoje começa o mês mais longo da minha vida universitária. O último mês de aulas, de testes e trabalhos. O mês para a conclusão do meu curso de Estudos Artísticos, na Universidade do Algarve. Três anos que passaram depressa, sem contar com os outros que andei no já extinto curso de Engenharia Agronómica - Ramo de Hortofrutícultura. Tudo correrá bem, certamente, mas tenho de me esforçar muito (bastante mesmo). Vai valer a pena. Este mês coincide com o período final de férias do meu trabalho. Que bom ficar longe daquele cinema! Sim, vai mesmo valer a pena. A todos os alunos universitários que acabam os seus cursos este ano lectivo, a minha palavra de solidariedade: Força Nisso, Malta! Xau pessoal! Beijos e Abraços.

sábado, 24 de maio de 2008

Frase do Dia (3).

«Ontem foi história...Amanhã será um mistério. O que importa é o Hoje e viver o momento...» (autor desconhecido)

Crítica Cinematográfica nº 7.


À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino

À Prova de Morte é a sexta longa-metragem, em nome próprio, de Quentin Tarantino, um dos mais brilhantes realizadores estado-unidenses da sua geração. Um cinéfilo e amante da sétima arte como poucos, que transporta toda essa cultura cinematográfica para os seus filmes, criando imagens de marca, verdadeiros símbolos, características que o tornam num digno exemplo do cinema de autor. Entre as suas inesquecíveis obras, destacam-se Pulp Fiction (1994) e as duas partes de Kill Bill – A Vingança (2003-2004). Os diálogos são uma das suas maiores marcas cinematográficas. As temáticas giram sempre á volta de personagens fora-da-lei, onde a violência tem um papel importante. Reflexo duma sociedade violenta, num país dito desenvolvido e civilizado, proclamador da terra da liberdade. A linha narrativa de À Prova de Morte é bastante simples. Um duplo de cinema de filmes de série B assassina 5 raparigas com o seu carro à prova de morte, num violento acidente. Meses mais tarde repete a mesma brincadeira com outras raparigas. Mas desta vez, ele nem sabe no que se foi meter nem o que o espera.
Tarantino é daqueles realizadores que se parece com uma faca de dois gumes. Ou se ama ou se odeia (os seus filmes, entenda-se) e À Prova de Morte é um perfeito exemplo disso. Um filme que a crítica especializada venerou e ao mesmo tempo menosprezou. Mas afinal o que nos traz de novo esta obra do realizador estado-unidense? É exactamente o que queremos descobrir.
Primeiro que tudo, À Prova de Morte é uma clara homenagem ao cinema de série B, cinema de baixo orçamento que se fazia nos anos 60 e 70, sem algum propósito artístico e que explorava temáticas sensacionalistas, algumas delas bastante chocantes ou mesmo tabu, como o sexo e a violência, de forma muito gráfica e explícita e que não passava no cinema mais comercial da altura. Este tipo de filmes passava nos antigos cinemas de bairro (ou cine-teatros), muitas vezes em sessões duplas contínuas. As salas que projectavam este tipo de filmes passaram a denominar-se Grindhouse, um vocábulo sem tradução para outras línguas, que passou a caracterizar este tipo de cinema. Os géneros eram os mais variados possíveis, desde western spaghetti, eróticos, horror, crime, mistério, filmes de canibais, de kung fu, de motoqueiros e de carros, zombies, mulheres na prisão, etc. Outra característica deste tipo de filmes era a qualidade da fita, que reflectia a qualidade do filme. Os riscos e a falta de fotogramas eram constantes, devido ao desgaste da fita provocado pelo extremo uso. Note-se que À Prova de Morte pertence à segunda parte da sessão dupla de cinema Grindhouse. A primeira parte foi assegurada pelo grande amigo de Tarantino, Robert Rodriguez (que o convidou para este projecto), com um filme de zombies chamado Planet Terror (2007).
Mas as homenagens não se ficam por aqui. As referências a filmes e séries de culto são uma constante. Exemplo disso é a conversa de Stuntman Mike com algumas raparigas no bar, sobre os filmes em que tinha participado como duplo, dos quais as raparigas desconheciam por absoluto. Outras referências são os seus filmes. O carro amarelo e preto que aparece na segunda parte do filme é uma clara alusão ao fato usado por Uma Thurman em Kill Bil: Vol. 1 – A Vingança (2003). Outra das marcas autorais, que já foi mencionada acima, e talvez a mais importante de todas e a que mais sobressai nos seus filmes: os diálogos. A palavra em Tarantino é fundamental. Os diálogos são simples, banais e ao mesmo tempo sofisticados, cheios de repetições, com bastante calão e humor à mistura, originando uma espécie de eloquência própria e invulgar, conferindo um certo estilo cool aos personagens. Não podemos esquecer também uma pequena referência à literatura, pois o excerto do poema recitado por Stuntman Mike a Arlene chama-se Stopping by Woods on a Snowing Evening, da autoria de Robert Frost, poeta estado-unidense dos finais do século XIX, princípios do século XX.
Em termos técnicos, parece que Quentin Tarantino está cada vez melhor e isso nota-se na maneira como filma. Neste filme ele desempenha também a função de director de fotografia. Isto é importante referir, pois a qualidade da fotografia aumenta ao longo do filme. Temos, portanto, uma primeira parte a cores, muito má, cheia de falhas, com a falta de fotogramas e onde os cortes são mal executados. Tudo isto de forma propositada. A seguir passamos directamente para uma pequena parte monocromática, preto e branco, com excelente qualidade, onde Tarantino mostra as suas capacidades como director de fotografia. Nesta parte são introduzidas novas personagens, predominando um certo tom de mistério, dado pelo preto e branco. Passamos depois rapidamente para cor novamente, e esta cor já não é a mesma da primeira parte. Tem melhor qualidade e mais nitidez, apesar de continuar a haver falhas de continuidade, com a presença de alguns fotogramas a mais ou a menos. Uma palavra para a excelente montagem, servindo as ideias e os propósitos do realizador. O filme contém também excelentes sequências de acção. Tem umas das melhores perseguições de carros jamais filmadas e uma colisão frontal de cortar a respiração, extremamente violenta e visceral, onde os carros são personagens principais.
Quantos aos temas presentes no filme, eles não são nada novos em Tarantino. Cinema, sexo, mulheres, carros, violência, álcool, drogas e WCs. Cinema, porque quase todas as personagens trabalharam ou trabalham no mundo do cinema. O sexo está lá, não é explícito e a exploração da imagem feminina pela câmara é permanente como, por exemplo, na lap dance de Arlene a Stuntman Mike. Em relação ao álcool, drogas e WCs, nada a dizer. Estão quase sempre presentes nos seus filmes. Engraçado ver que o duplo que provoca a morte das raparigas na colisão frontal, não bebe um pingo de álcool. E claro, os carros, que são as personagens principais das sequências de acção e as “armas” geradoras da violência.
Mas então afinal o que traz de novo esta obra de Tarantino? Respondendo de forma curta e simples: nada. Mas por detrás deste «aparente vazio» está uma das suas obras mais interessantes. Isto porque mostra-nos Quentin Tarantino no seu melhor e igual a si próprio, logo, nada de novo. Por outro lado, a sua intervenção neste tipo de filmes série B, o seu peculiar estilo, torna o filme melhor do que ele realmente é, ou seja, o estilo de Tarantino eleva o nível da série B com À Prova de Morte, tornando-o, neste particular aspecto, inovador, fascinante e de culto.
Em jeito de conclusão e parafraseando George Clooney no anúncio publicitário da Nespresso, se aplicável ao cinema de Quentin Tarantino, seria algo assim: “Tarantino. Who else?”


(10-01-2007)

Crítica Cinematográfica nº 6.


Vestida para Matar (1980), de Brian De Palma

Brian De Palma é um cineasta de homenagens. Todo o seu cinema está carregado de referências doutros cineastas ou dele próprio (dos seus filmes). Não que isso seja um ponto negativo a seu favor, porque na minha perspectiva, penso que até é positivo, pois torna os seus filmes interessantes e fascinantes. Uma dessas referências, sem dúvida alguma a maior de todas, é Alfred Hitchcock. Seja por movimentos, ângulos, pontos de vista ou perspectivas de câmara, seja pela montagem, o Mestre do Suspense está presente em todos os seus filmes. Referência que o próprio realizador assume, segundo o que alguma crítica americana considera como um uso abusivo das homenagens a Hitchcock, copiando até cenas inteiras e com isso não trazendo nada de novo aos seus filmes. Críticas injustas a um dos melhores e mais importantes film-makers da sua geração. É muito estudado nas escolas de cinema, nos dias que correm, pela sua forma muito especial, extremamente técnica, de filmar.
Vestida para Matar é claramente uma das suas homenagens ao Mestre. Um thriller sensual, erótico quase, com um toque de film noir. Kate Miller é uma dona de casa amargurada e frustrada sexualmente. Uma frustração, que desabafada com o seu psiquiatra e amigo Dr. Robert Elliott, a leva a cometer adultério com um desconhecido, para quebrar a rotina que a sufoca. No seu regresso a casa é brutalmente assassinada por uma misteriosa transexual loura, toda vestida de negro. Este crime hediondo é testemunhado por uma prostituta de luxo, Liz Blake, que passa a ser o novo alvo desta estranha assassina.
Mas as aparências iludem. O realizador dá extrema importância aos detalhes, provocando o espectador para uma redobrada atenção. Estes detalhes são-nos mostrados através da sua técnica fílmica, com por exemplo o enquadramento dividido ao meio, e da montagem. Outra das grandes marcas registadas do realizador e uma das suas homenagens a Hitchcock é a cor loura do cabelo das suas protagonistas.
A morte é uma presença habitual em De Palma. É mais uma das formas de desafio às percepções do público que o realizador propõe. A morte tem aqui a função de elo de ligação entre a personagem que morre e a personagem que testemunha a sua morte. Essa ligação emocional é introduzida através do zoom simultâneo dos olhos de ambas as personagens, como se a transmissão dum terrível tormento, neste caso, a morte duma reflectir-se-á na vida da outra.
Uma das situações interessantes neste filme é o facto de ter cuidado com o que se deseja, ou com o que se sonha, pois pode perigoso de alguma maneira. Passando a explicar: a personagem principal, Kate, morre por ter realizado as suas fantasias sexuais, por ter transgredido a sua rotina. Por outro lado, a prostituta Liz tem sexo a mais na sua rotina e quando se refugia numa vida mais pacata, após o susto, começa a ter sonhos em que aparece morta às mãos da assassina de Kate. Esta troca de papéis sociais tem uma força de ligação, a transexual assassina loira, o ponto de equilíbrio entre as duas mulheres. Esta gracinha irónica operada por De Palma mostra a sua visão peculiar sobre o sexo oposto.
Outro tema presente no filme é a transexualidade. Provavelmente a primeira vez que um cineasta abordou este assunto tabu para a sociedade conservadora estado-unidense num filme, embora duma forma subtil.
Vestida para Matar é uma interessante obra voyeurista que mostra exactamente porque que caminho trilha Brian De Palma, um cineasta por vezes não apreciado ou não entendido por alguns seus compatriotas críticos. Sem dúvida um realizador marcante no cinema estado-unidense de suspense.



(04-01-2007)

Crítica Cinematográfica nº 5.


Memento (2001), de Christopher Nolan

Um ex-investigador de seguros, Leonard Shelby, investiga o homicídio da sua esposa, que ocorreu num assalto à sua casa, no qual ele foi atacado violentamente deixando-o inconsciente. Posteriormente é-lhe diagnosticado uma lesão na cabeça que o impossibilita de armazenar as memórias recentes e imediatas. Para superar tal condicionamento, Leonard desenvolve um sistema de apontamentos, fotografias e tatuagens, que o ajudam, entre outras coisas, a obter as informações necessárias sobre o paradeiro do homicida e obter a desejada vingança. Pelo meio da sua busca, ele é ajudado por dois estranhos, Teddy e Natalie.
Memento significa souvenir. Algo que nos faz recordar alguém ou algum local por onde já passamos. Este é o título deste thriller realizado por Christopher Nolan, cujo argumento é baseado no conto Memento Mori, escrito pelo seu irmão, Jonathan Nolan. Memento Mori é uma expressão latina que significa “Lembra-te que és mortal e que um dia morrerás”.
Superiormente realizado, Memento é a prova de que Christopher Nolan é também um excelente contador de histórias, utilizando a montagem como o elemento narrativo fundamental. A história é contada em sucessivos flashbacks e flash-fowards, devidamente diferenciados cromáticamente e de forma alternada. Não sendo um método novo, a desconstrução narrativa orquestrada pelo realizador é necessária para pôr a nu o problema da perda da memória imediata originada pelo estado clínico da personagem principal. Essas memórias, tal com peças de puzzle, são inteligentemente montadas de modo a produzir o efeito de suspense sobre o espectador, provocando-o, obrigando-o a questionar-se. Exactamente aquilo que o cinema precisa nos dias de hoje e não que nos seja dado tudo numa bandeja de prata.
A música, a cargo de David Julyan [que futuramente, voltaria a trabalhar com Nolan em Insomnia (2002) e O Terceiro Passo (2006)] é muito importante na criação de ambientes nos diferentes momentos da história. Por exemplo, numa sequência que Leonard recorda a mulher, num ambiente solitário (o quarto do motel), o espectador sente claramente a sensação de perda profunda da personagem, através da música.
Relativamente ao estado clínico do qual personagem principal padece, a doença chama-se amnésia anterógrada. É uma amnésia que atinge os factos ocorridos após um acidente, ou seja, perda da memória imediata. Acontece quando existe algum traumatismo na zona do hipocampo, a sede da memória no cérebro. Como pode viver uma pessoa com uma doença deste tipo? Fazer ou dizer algo e ao fim de dez minutos não se lembrar do que acabou de fazer ou dizer? O filme mostra bem a dificuldade de lidar com esta situação, especialmente se terceiros estiverem envolvidos. Não confiando nas nossas próprias memórias, poderemos confiar nas outras pessoas que nos ajudam, ou elas usarão o nosso handicap em seu benefício?
Memento é uma obra excepcional em termos fílmicos, um daqueles filmes que não nos deixa indiferentes e nos deixa algo para ficar na memória. Como um souvenir.



(16-12-2007)

Crítica Cinematográfica nº 4.


Hot Fuzz – Esquadrão de Província (2007), de Edgar Wright

Dos criadores de Shaun of the Dead (2004), Edgar Wright e Simon Pegg (respectivamente realizador e actor, ambos argumentistas), chega-nos esta comédia de acção, um tributo aos grandes filmes de acção de Hollywood, mas com o típico humor britânico à mistura.
O sargento Nicholas Angel (Simon Pegg) é o melhor agente da Polícia Metropolitana de Londres. Ele é tão bom que os seus superiores são obrigados a transferi-lo, pois a sua dedicação ao trabalho é tão grande que deixa os colegas e até dos próprios superiores mal vistos no seio da corporação. Assim, ele é transferido para a vila mais calma de Inglaterra, Sandford. Na vila todos se conhecem e a vida é tão pacata que até se torna aborrecido. Mas após a chegada de Angel, estranhos acidentes acontecem e várias pessoas aparecem mortas. Tudo é tratado como meros acidentes e como ninguém desconfia de ninguém, nem se quer se põe a hipótese de terem sido homicídios. Mas Angel não se convence e com o seu parceiro Danny Butterman (Nick Frost), um polícia fanático por filmes de acção, tentam descobrir o que se passa, numa vila que de pacata só tem a aparência.
O filme é uma propositada homenagem às famosas fitas hollywoodescas de acção, alguns westerns (principalmente os westerns spaguetti de Sergio Leone), séries televisivas de sucesso tanto de animação como de live action, tudo regado com uma grande dose do humor negro britânico, onde as referências são enormes, tanto ao nível dos diálogos como ao nível dos planos filmados, apropriando-se dalgumas cenas emblemáticas. Dentro das séries de TV e dos filmes homenageados estão Por um Punhado de Dólares (1964); O Bom, O Mau e o Vilão (1966); Monty Python's Flying Circus (1969); Dirty Harry (1971); Chinatown (1974); Tubarão (1975); Os Marretas (1976); Mad Max (1979); He-Man and the Masters of the Universe (1983); Miami Vice (1984); Arma Mortífera (1987); Assalto ao Arranha-Céus (1988); Tudo Bons Rapazes (1990); Ruptura Explosiva (1991); Cães Danados (1992); Parque Jurássico (1993); A Verdade da Mentira (1994); Léon – O Profissional (1994); Romeo + Juliet (1996); Estrada Perdida (1997); Bad Boys II (2003) e o próprio Shaun of the Dead (2004).
Uma hilariante comédia de acção, talvez uma das melhores de 2007, com uma boa história e com excelentes momentos de acção que entretêm por completo o espectador, um dos objectivos deste género de cinema.
Recomendo vivamente, especialmente para quem quer sair da sua vida rotineira, nem que seja por duas horas.


(24-11-2007)

Crítica Cinematográfica nº 3.


As Asas do Desejo (1987), de Wim Wenders

Berlim, 1987. O Muro continua a dividir a cidade e as memórias da guerra continuam a fazê-la tremer. Anjos vagueiam pelos seus céus. Observando e escutando, como se pudessem ler os seus pensamentos, eles confortam e acarinham as pessoas, mesmo sendo incapazes de ter qualquer interacção física com elas. Ao apaixonar-se por uma trapezista dum circo em decadência, um dos anjos, Damiel (Bruno Ganz), deseja tornar-se mortal e experimentar todas as sensações humanas.
Este é o ponto de viragem deste drama fantástico do alemão Wim Wenders, que nos mostra uma Berlim nos seus últimos anos de Guerra Fria, cansada, desgastada, nostálgica. Uma nostalgia de paz, relembrada pelo personagem do velho, que procura num descampado, aquilo que outrora fora a praça Potsdamer, onde ele costumava beber o seu café e fumar o seu charuto. Memórias dum espaço que desapareceu com a guerra.
Wenders explora (e muito bem) visualmente todos os recantos da cidade e das suas pessoas, através do ponto de vista dos anjos. É aqui que se encontra a característica visual principal do filme. O contraste do ponto de vista dos anjos, num tom monocromático sépia, mudando para a cor, quando se passa para o ponto de vista humano. Um jogo cromático interessante para justiçar a falta de sensações humanas por parte dos anjos.
Um outro aspecto interessante é quando o anjo Damiel se torna finalmente humano, a sua passagem para o mundo terreno é feita dentro do Muro de Berlim, como se o Muro funcionasse como purgatório, mas ao contrário, do Céu para a Terra.
Peter Falk, que faz dele próprio no filme, está em Berlim para participar num filme sobre o Nazismo em Berlim. É ele que assiste Damiel na transição para a vida terrena, dizendo-lhe que já fora um anjo e que renunciara a imortalidade para poder experienciar os simples prazeres da vida na Terra, como fumar um cigarro ou beber um café acabado de fazer.
Der Himmel über Berlin, não é mais do que uma celebração ao desejo, à esperança, ao amor, à vida, à liberdade, à realidade e a existência, numa cidade que muito sofreu com a falta destes atributos num passado recente.



(17-11-2007)

Crítica Cinematográfica nº 2.


Poderosa Afrodite (1995), de Woody Allen

Ao descobrir que o seu filho adoptivo tem grandes capacidades intelectuais, Lenny (Woody Allen) fica obcecado e lança-se numa demanda para encontrar os pais biológicos da criança. Descobre então que o pai faleceu e a mãe, Linda (Mira Sorvino) é uma prostituta e actriz pornográfica em part-time, e além de não ser muito dada à inteligência.
Uma história aparentemente banal e dramática, que Allen consegue, com mestria, transformá-la numa hilariante comédia. Allen mostra a sua visão dos clássicos da tragédia grega, como Édipo Rei ou Antígona, utilizando o coro como elemento narrativo e também como guia e conselheiro da personagem principal, originando uma interacção que provoca excelentes momentos de verdadeira comédia, onde os diálogos, marca de Allen, são fundamentais. Outro dos truques cómicos do filme está na diferença de alturas entre as duas personagens principais. Lenny é baixo enquanto Linda é alta.
Allen provoca o espectador com as sucessivas mudanças de plano entre a Antiga Grécia e a Big Apple na actualidade, movimentando a personagem principal e o coro em ambos os planos, obrigando-o a interrogar-se e concentrando a sua atenção sobre o que se vai passando no filme. Este estranhamento cinematográfico é importante para mostrar a importância da tragédia grega, personificada principalmente pelo coro. Tudo o que acontece na actualidade não é por acaso.
A psicanálise volta a estar presente desta vez com Édipo Rei.
Esta é a verdadeira homenagem do realizador nova-iorquino aos Clássicos Gregos, mostrando que ainda há espaço para eles na actualidade e que as suas histórias são intemporais e nos alertam para coisas e situações importantes da vida.



(17-11-2007)

Crítica Cinematográfica nº 1.


A Invasão (2007), de Oliver Hirschbiegel

Um vaivém espacial despenha-se ao chegar à Terra. Consigo trás um vírus extraterrestre, que num espaço de dias, começa a infectar a humanidade. O vírus, que actua durante o sono profundo, transforma os humanos em autómatos frios, privados de qualquer emoção, tornando-os semi-pacíficos. Como o vírus é transmitido por qualquer portador através da troca de fluidos, para fugir à contaminação, é necessário as pessoas manterem-se acordadas.
Esta premissa, nada nova, tem longa data. Este filme é mais uma adaptação, a quarta, do romance de ficção científica, The Body Snatchers, de 1955, escrito pelo norte-americano Jack Finney, cujas versões anteriores são respectivamente, A Terra em Perigo (Don Siegel, 1956), A Invasão dos Violadores (Philip Kaufman, 1978) e Violadores - A Invasão Continua (Abel Ferrara, 1993).
Este thriller de ficção científica é protagonizado pela australiana Nicole Kidman e pelo inglês Daniel Craig, o novo James Bond. É realizado pelo alemão Oliver Hirschbiegel (o seu primeiro filme em língua inglesa), conhecido pelo filme A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich, aclamado pelo público e pela crítica em 2004, e escrito pelo argumentista David Kajganich. Apesar de tudo, por falta de algumas cenas mais espectaculares, os produtores e o estúdio, Warner Bros., decidiram reescrever e refilmar algumas cenas e para isso contrataram os irmãos Wachowski (Matrix, 1999) e o realizador James McTeigue (V de Vingança, 2005).
O filme é uma alegoria à situação política americana actual e todos os conflitos que daí advêm, como são exemplo a guerra no Iraque, genocídio em Darfur, ou mesmo a catástrofe natural causada pelo furacão Katrina. Tudo isto contrariamente à paz do planeta trazida pelo vírus alienígena, já que o completo estado de transe não leva os “humanos alterados” a cometer actos demasiadamente violentos. Além disso a ideia da personagem principal ser uma psiquiatra que receita medicamentos anti-depressivos, reflecte bem o estado depressivo em que a humanidade se encontra actualmente, causas essas que também têm a ver com as situações políticas e ambientais, referidas anteriormente.
Neste mundo pós-moderno, permanentemente engolido por uma sociedade individualista, consumista, podre, decadente, cheia de desgraças, que acontecem pelo globo fora, as pessoas andam desnorteadas, inseguras, apreensivas, apavoradas, depressivas até e não conseguem encontrar a sua paz interior. Os “humanos alterados” pelo vírus vêem mostrar que é possível viver em paz, coisa que os nossos governos mundiais nunca conseguiram resolver. Mas paz até que ponto? E se nós, os humanos, seres emocionais, só entendemos a agressividade e a violência na resolução dos nossos conflitos, então o que seriamos se não houve nada disso, nem violência, nem emoções? Deixávamos de ser humanos? A ideia parece absurda, mas tem algum fundamento, embora completamente discutível.
Ainda que estas ideias contextuais tragam uma mais-valia ao conteúdo do filme, a sua linha narrativa é simplista, com um final apressado e onde as cenas de maior suspense pecam exactamente pela falta desse mesmo suspense. Uma nota para o trabalho dos actores principais, que se mostram bastante competentes, apesar de não sentir a química entre Kidman e Craig, que até formam um par bastante interessante. Um filme que se vê bem e que não nos provoca pesadelos à noite.


(14-11-2007)

Dedicatória.

Queria deixar aqui uma pequena dedicatória à minha mãe querida e à minha gata Nina, que fez 4 aninhos no passado dia 22 de Maio, pela inspiração para a criação deste blogue. Beijinhos.

A Magia das Idas ao Cinema.

Hoje fui ao cinema com a Vera. A Vera é daquelas raparigas por quem já me apaixonei. Não é difícil perceber porquê. Ela é um doce de pessoa, um ser humano fantástico, daqueles que só apetece passar o tempo com eles. Além de muito bonita, foi das raparigas por quem já me apaixonei. A sua avó faleceu recentemente e ela tem estado um bocado em baixo, coitada. Coitada da Vera. Convidei-a então para irmos a uma sessão de cinema, para desanuviar. Coitada da Vera, estava mesmo em baixo. Ela gostou do filme e ficou mais feliz, esquecendo por um pouco a dor que carrega no peito. Ficou mais feliz. Fiquei eu também mais feliz, com a companhia da Vera. Beijinhos. Adoro-te Vera!

As idas ao cinema têm essa capacidade. De se tornarem mágicas. A magia do cinema torna as nossas vidas mais felizes.

Escrito a 02-04-2008

Foto tirada a 07-12-2007

Texto dedicado à minha grande amiga Vera Mestre, por ter conseguido superar uma fase difícil da sua vida.

Poema Simples.


Big Blue Eyes...
Like the color of the skies
Is impossible not fall by
Your big blue eyes.


01 de Maio de 2008, hora desconhecida.

Dedicado com muita amizade e carinho a uma grande amiga: Swantje Seumer, um lindo cisne de grandes olhos azuis. Beijos.

Para Pensar (1).

«As raízes da educação são amargas, mas o fruto é doce.» (Aristóteles)

Big Brother Camuflado?


(...) O mundo que cresce aos nossos pés cada vez se habitua mais a ser vigiado e controlado desde pequenino e tende a achar normal usar estas "novas tecnologias" para punir os faltosos, mesmo que isso signifique violar direitos e recolher informações indevidas. (...)



Pereira, José Pacheco, A lagartixa e o jacaré, Revista Sábado, nº 204, de 27/03/2008 a 02/04/2008, pág. 13



Será que temos um Big Brother entre nós a vigiar-nos e não sabemos? Cuidado que eles andam por aí...

O Meu Prato Favorito.


Todo o português gosta de um bom peixe assado na brasa. Os algarvios então, são dos que mais apreciam esta iguaria. Como algarvio não sou excepção. Por causa dela, resolvo contar-vos esta pequena história. A estação estival da minha infância e adolescência sempre fora passada na casa de praia dos meus avós e dos meus tios. Uma praia chamada Praia de Monte Clérigo, próxima da vila de Aljezur, bem no coração do parque natural da Costa Vicentina. Uma praia duma rara beleza paisagística, que oferece uns bons dias de descanso e de relaxamento. Uma das coisas que mais apreciava (e aprecio) era o peixe assado ao almoço. Sempre que houvesse pescaria, no dia seguinte era peixe assado na brasa, com salada e batata-doce. Homens na pesca, mulheres a arranjar o peixe para o dia seguinte. Mas, meus amigos, estou a falar de sargos, douradas e robalo, tipos de peixe que raramente se come por serem bastante caros. Todos os verões se repetia a mesma história, mas, houve um muito especial, o melhor de todos, que ainda recordo com saudade. Há cerca de 12, 13 anos atrás, houve um verão de particular abundância. Sem exagerar, não falhando nas contas, comi peixe assado ao almoço todos os dias, durante 3 semanas seguidas. Foi o verão da minha vida. Esta pequena história é uma introdução para o que me aconteceu há dois dias atrás. Na 5ª feira passada o meu avô telefonou-me a perguntar se eu queria ir almoçar com ele e a minha avó em sua casa. Respondi prontamente que sim e abalei. Chego e que vejo eu em cima da mesa: sargo assado na brasa, salada e batata-doce. A minha visão e o meu olfacto ficaram completamente extasiados. Quando comecei a comer, os odores e os sabores da refeição faziam o meu cérebro disparar as memórias daquele verão estupendo em Monte Clérigo. Quando fechei os olhos, quase como poesia, senti a brisa marinha e o som das ondas da maravilhosa praia de Monte Clérigo. E logo a seguir senti-me melhor, melhor pessoa, senti-me bem por eu ser eu. Porque não existe nada melhor na vida que as memórias das boas sensações vividas. São estas pequenas coisas que nos fazem dar valor à vida que temos. No mundo pós-moderno que vivemos, são pequenas coisas como esta que nos fazem acreditar em algo, que nem tudo está perdido, e que, podemos e devemos conservar aquilo que nos é mais precioso na vida. Um bem haja ao peixe assado, sem dúvida alguma, o meu prato favorito.


Escrito a 29-03-2008

Aedh (He) wishes for the Cloths of Heaven.


Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.



William Butler Yeats (1865-1939), in The Wind Among the Reeds (1899).

A Morte da Literatura.


"(...) A Literatura industrializada, e que é hoje o que se poderia chamar a prosa das massas, normalmente composta em narrativas cujos padrões giram à volta da novela policial, não necessita de estilo nem de forma. E, assim, o escritor legitima a plebe audiovisual, não fazendo exigências retóricas ou prosódicas ao seu público, enquanto este por sua vez legitima o escritor não fazendo exigências, nem de forma nem de estilo: consentem ambos em não saber o que são as cláusulas rítmicas da prosa de Cícero, ou o uso do Leitmotiv por Thomas Mann."



in "A Morte da Literatura", Lourenço, M.S., Os Degraus do Parnaso, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, pág. 69.

Antonin Artaud - "O Teatro e seu Duplo".


"Fazer arte é privar um gesto de sua repercussão no organismo."


Antonin Artaud


Artaud, Antonin, 1996, O Teatro e o seu Duplo, Lisboa, Fenda, pág. inicial.

Listas.


Listas. Todos nós fazemos listas. De compras, de desejos, de sonhos, de números de telefone, de aquilo que queremos fazer este ano, ou deveríamos ter feito no ano anterior, daquilo que queremos fazer antes de morrer, listas de tudo e mais alguma coisa. Mas afinal para que servem? Para que não esqueçamos de fazer essas coisas ou para mostrar que somos organizados? Não. Não. Não. Não. Não. Estas listas não servem para nada. Mas é que não servem mesmo para nada. A vida é demasiado curta para seguir todas as regras, como se ela tivesse toda traçada, sendo nossa única função seguir o que está escrito. A vida é que fazemos dela, quer queiramos, quer não queiramos. Provavelmente seria bem melhor fazer as coisas que pomos numa lista sem precisarmos dela. Eu também faço listas. Mas a única e verdadeira lista que faço é a das compras do supermercado, só para levar o essencial e o necessário. Mas não fico a pensar nela depois. Virem as vossas costas às listas e vivam as vossas vidas ao máximo, e se por acaso não realizarem todas as vossas vontades e desejos por algum motivo (dinheiro, por exemplo), não fiquem tristes. O sol nasce todos os dias e desde que ouvi falar dele nunca faltou, por isso não se preocupem. Nunca desperdicem as vossas oportunidades. Elas andam por aí, a procura de serem encontradas. Um conselho: sejam honestos. Não é necessário mais nada.


Escrito a 26-01-2008

J. Grotowski, "Para um Teatro Pobre".

Que espera do espectador neste género de teatro?

Os nossos postulados não são novos. [...] Não trabalhamos para o homem que vai ao teatro para satisfazer uma necessidade social de contacto com a cultura: por outras palavras, para ter alguma coisa de que falar com os amigos, ou para poder dizer que viu esta ou aquela peça e que era interessante. Não estamos aqui para satisfazer as suas “necessidades culturais”. Isso é batota. Nem tão-pouco trabalhamos para o homem que vai ao teatro para descansar de um duro dia de trabalho. Toda a gente tem o direito de descansar depois do trabalho e numerosas formas de distracção existem com esse fim, desde certos tipos de filmes ao cabaré e ao music-hall, e tantas do mesmo género.O que nos interessa é o espectador que quer realmente, através do confronto com o espectáculo, analisar-se a si próprio. O que nos interessa é o espectador que não se fica por um estádio elementar de integração psíquica, muito satisfeito com a sua pobre estabilidade geométrica e espiritual, sabendo exactamente o que é bom e o que é mau, e alheio a dúvidas. Não foi a ele que El Greco, Nordwid, Thomas Mann ou Dostoiewski se dirigiram, antes àquele que empreende um processo sem fim de autodesenvolvimento, cuja inquietação não é geral, antes dirigida para uma busca da verdade sobre si próprio e a sua missão na vida.


Quer isto dizer um teatro para uma elite?

Sim, mas para uma elite que não é determinada pela base económica ou situação financeira do espectador, nem sequer pela educação. O trabalhador que nunca teve educação secundária pode aderir a este processo criativo de auto-análise, ao passo que o professor universitário pode estar morto, definitivamente formado, moldado na rigidez terrível de um cadáver.


Grotowski, Jerzy, Para um Teatro Pobre, 1975, Lisboa, Forja.

Frase do Dia (2).

«There is nothing either good or bad, but thinking makes it so.» (William Shakespeare)

Frase do Dia (1).

«A nossa vida necessita de banda sonora!» (Carlos Eduardo Duarte)
Escrito a 14-11-2007.

Para Rir à Boca Cheia.

Há dias atrás fui jantar à casa dos meus avós. Durante o jantar, aconteceu uma coisa engraçada. A minha avó, distraída, começou a comer o seu Nestum com um grafo. O meu avô ao apercebe-se, lembrou-lhe o que estava fazendo, culminando o momento com uma bela risada. E nós sabemos o que acontece quando reparamos na mesma piada, vá de rir também! Mas a piada deste evento, lembrou ao meu avô uma piada antiga que ele tinha ouvido, provavelmente quando teria a minha idade. Então, virando-se para mim, no seu jeito de contador de histórias e com o seu sotaque muito próprio, diz: "Queres ouvir esta piada? Escuta só: Certo dia, andava um caranguejo pela praia. Ele tava um pouco mal nesse dia pois andava de soltura. Então pouco antes de chegar á beira da água, largou um dos seus cagalhotos. Quando ia a entrar dentro de água, olhou para trás e viu outro caranguejo a vir direito ao cagalhoto que acabara de soltar, todo contente, a agitar alegremente as suas pinças. Diz assim o 1º caranguejo: - Ai trazes grafo? Na vás buscar uma colher, não, que hás-de comer muito!" Foi o riso geral durante o jantar. Já há muito que não ouvia uma piada tão boa, e o meu avô é fantástico neste aspecto: fazer duma coisa engraçada ainda mais engraçada. Genial.


Beijinhos, Avô Francisco Duarte.


Escrito a 10-11-2007

Momento (1).


A vida é feita de momentos. Alguns deles marcantes e inesquecíveis. Para que possamos guardá-los, aqui fica um exemplo de como a cidade pode ser imensamente bela num fim da tarde outunal, após o pôr-do-sol. Uma beleza cromática que nos transmite uma tranquilidade única, mesmo que seja por instantes...e é tudo o que mais importa. Apenas e só, esses momentos...


Foto tirada a 01-12-2007, ao fim da tarde.

Poema Genial.

Não te amo mais.
Estarei mentido dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho a certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…

É um poema duro, não é?

Agora lê-o de baixo para cima...

(Fonte: Recebido por email)

Amiga.

Com este pequeno presente quero mostrar
Com muita alegria e felicidade
Toda a pureza da nossa amizade.

És o melhor ser humano que conheço
Pelo respeito e admiração.
A única coisa que desejo,
Que sejas a melhor amiga do meu coração!

Quero muito ser teu amigo,
Sem nunca te perder.
Algo que a minha existência
Não consegue conceber.

Desejo que a minha amiga
Me ajude com o seu sorriso a amparar
Em todos os momentos que eu precisar.

E só para terminar,
Com muito amor e carinho,
Peço-te do fundo do coração, um beijinho para o teu amiguinho!


20 de Maio de 2006, hora desconhecida.

O Amor pela Arte.


"O actor deve trabalhar a vida inteira, cultivar o seu espírito, treinar sistematicamente os seus dons, desenvolver o seu carácter; jamais deverá desesperar e nunca renunciar a este objectivo primordial: amar a sua arte com todas as suas forças e amá-la sem egoísmo."


O Amor pela Arte, Stanislavski, Constantin, 2001, A Construção da Personagem, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, pág. inicial

Introdução.


Olá a todos!

Sejam bem-vindos ao meu blogue. É verdade, custou mas foi. Finalmente já tenho o meu blogue. Foi criado depois de alguma insistência minha e de algumas pessoas (és um mentiroso, pá!), por estas acharem que escrevia alguma coisa de jeito (vai-se lá saber donde eles tiram essa ideia...!?). A verdade, verdadinha é que eu tinha uma enorme vontade de escrever. Por isso, aqui estou eu. Relativamente ao título do meu blogue, tenho de agradecê-lo à minha mãe e à minha gata, a Nina (em cima na foto). Tudo porque, um dia, ao desmontar o beliche que tinha no meu quarto e ao colocar todas as suas peças, incluindo colchões, junto a um canto, reparei que a minha gata amarinhava pelos colchões acima e deitava-se bem lá no topo. Passadas umas semanas, depois de a Nina tornar isto num ritual, a minha mãe, observando-a muito contente, disse: "Nina, já estás outra vez no alto da peúga, não é, minha pequenina?" Não é que o nome ficou no ouvido e mais tarde na memória? Então decidi, que quando criasse um blogue, dar-lhe-ia o nome de O Alto da Peúga. Mais tarde a minha mãe disse-me que o alto da peúga é um termo que os antigos velhos usavam para definir um alto que temos na cabeça. Terá ouvido isso na sua infância possivelmente. Pronto, aqui estou eu a cumprir com o prometido a mim mesmo. Espero que gostem do que aqui irei escrever. Abordarei os mais variadíssimos assuntos que achar relevantes, especialmente todos aqueles relacionados com o Cinema, apresentando todas a minhas críticas cinematográficas. Fico á espera das vossas visitas e dos vossos comentários. Obrigado.